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Corantes alimentares: um arco-íris de riscos

Toxicidade

Toxicidade 

Existem vários estudos acerca da toxicidade do Amarelo-sol FCF, muitos dos quais parecem apresentar evidências de problemas associados a estes compostos. No entanto, as conclusões não são muito claras, pelo que se torna imperativo a realização de novos estudos no que toca a este composto. 

Toxicidade aguda

 

O baixo nível  de toxicidade oral aguda do corante alimentar Amarelo-sol FCF é refletido por valores de LD50 superiores a 2000mg/kg  [EFSA, 2009] e a 10,000 mg/kg para ratos e superiores a 6000mg/kg para ratinhos [Gaunt et al., 1967].

 

No entanto, alguns estudos têm vindo a mostrar aparecimento de alguns efeitos secundários para doses superiores à dose diária recomendada. Tal como o aumento do cego e dos testículos em ratos do sexo masculino, e diarreia 24 horas após a ingestão do corante na bebida. [Gaunt et al., 1967].

 

Têm também sido notados pequenos aumentos em relação ao controlo dos níveis de transaminases, bilirrubina direta, que sugerem algum dano a nível hepático, no entanto estes parâmetros voltaram ao normal após um período de recuperação. [Helal et al., 2000; Mekkawy et al., 2001]

Imunossupresão

 

Um estudo in vitro mostrou que a exposição ao Amarelo-sol FCF, em doses superiores à dose diária recomendada, está associada a supressão das propriedades funcionais das células-T e das células-B do sistema imunitário, o que é corroborado pelo declínio simultâneo na produção das citocinas pró-inflamatórias IL2, IL4, IL6, IL-17, IFN-α E TNF-α e pela alteração da percentagem e expressão relativas dos recetores CD3e, CD4, CD8 (células T) e CD19 (células B) nos esplenócitos. [Yadav et al., 2013].

Potencial carcinogénico

 

Como no caso do corante Amarelo-sol FCF, os corantes azo sofrem uma redução a nível intestinal, pela nossa microflora, com formação de aminas aromáticas. Ora, estes metabolitos estão associados a um maior potencial mutagénico e carcinogénico que os seus precursores. [Golka, K. et al., 2007]

Assim, têm sido feitos alguns estudos para avaliar o potencial carcinogénico deste corante.

 

O National Toxicology Program (NTP) conduziu um estudo em ratos e ratinhos (50 animais por grupo) aos quais foram administrados 0%; 1,25% ou 2,5% do corante alimentar Amarelo-sol FCF.

No estudo com ratos, não foi encontrado qualquer significado estatístico da formação de neoplasias por consumo do corante em nenhum dos grupos. Já no estudo com ratinhos, os grupos com baixa dose do corante apresentaram maior incidência de carcinomas hepatocelulares e adenomas em comparação com os grupos controlo. Contudo, a única conclusão tirada pelos investigadores foi a de que este estudo não permitiu esclarecer a existência ou não de qualquer relação entre o consumo do corante Amarelo-sol FCF e o fenómeno de carcinogénese. [Ver NTP. Carcinogenesis bioassay of FD&C Yellow No. 6 em Kobylewski, S. et al., 2012 ]

 

Foram ainda realizados mais dois estudos com ratos para a avaliação do potencial carcinogénico:

No primeiro estudo, foram administradas doses do corante de 0% (2 grupos controlo); 0,75%; 1,5% e 3%, tendo este durado cerca de 30 meses;

No segundo estudo, foram administradas doses do corante de 0% (1 grupo controlo); 0,75%; 1,5% e 5%, sendo que este durou cerca de 26 meses.

Verificou-se um aumento do peso dos rins e uma maior incidência de adenomas medulares adrenais em ambos os estudos nos grupos aos quais foi administrada uma dose de 3% (primeiro estudo) e de 5% (segundo estudo). Verificou-se ainda um aumento do peso da tiroide no grupo ao qual foi administrado uma dose de 5% e uma maior incidência de adenomas das células testiculares no grupo ao qual foi administrada a maior dose no primeiro estudo (3%). Os investigadores concluíram que os dados recolhidos destes estudos não constituem qualquer evidência de carcinogenicidade por parte deste corante alimentar. [Ver Bio/dynamics. A long-term oral carcinogenicity study on FD&C Yellow #3 in rats em Kobylewski, S. et al., 2012]

 

Seria assim importante a realização de mais estudos sobre o potencial carcinogénico do corante Amarelo-sol FCF, uma vez que os estudos realizados ainda não permitiram retirar qualquer conclusão sobre o assunto.

 

Para além disso, há evidência da contaminação deste corante com compostos carcinogénicos como a benzidina. Apesar da FDA ter estabelecido um limite para a presença deste contaminante no corante Amarelo-sol FCF, foi comprovada a presença de benzidina numa quantidade superior a esse limite em alguns lotes do corante [Ver Peiperl M.D. et al., Determination of Combined Benzidine in Fd-and-C Yellow-No-6 em Kobylewski, S. et al., 2012].

Hiperatividade e défice de atenção

 

Uma das maiores controvérsias no campo dos corantes alimentares é a preocupação com os efeitos que podem ter no comportamento das crianças.

Em 1973, o Dr. Benjamin Feingold apresentou um artigo no encontro anual da American Medical Association, propondo que a hiperatividade pediátrica e os problemas de aprendizagem eram devidos a certos alimentos e certos aditivos alimentares. Baseado nas suas observações clínicas, ele acreditava que os seus pacientes eram frequentemente sensíveis a alimentos que continham salicilatos naturais e corantes alimentares sintéticos, pelo que inventou uma dieta (a “kaiser-Permanente”) livre destas substâncias.

Contudo, o seu trabalho foi na generalidade criticado pela comunidade médica e farmacêutica, e em 1975, a indústria alimentar, representada pela National Advisory Committee of the Nutrition Foundation, declarou, “Nenhum estudo controlado demonstrou que a hipercinesia está relacionada com a ingestão de aditivos alimentares”. Apesar disto, o trabalho de Feingold continuou a ser apoiado e aceite; a maioria por muitos pais, os quais formaram a ainda existente Feingold Association of the United States.

Contudo, continuaram a ser realizado mais estudos e em 2004, Schab e Trinh publicaram a sua meta-análise e encontraram diferenças significativas entre o grupo que estava a consumir corantes alimentares e o grupo placebo; sendo que as crianças demonstraram sintomas de hiperatividade e de défice de atenção nas classificações dos pais, mas não dos professores e profissionais.

 

Da investigação realizada até hoje nesta área, algumas conclusões foram tiradas, sendo as mais importantes as  seguintes:

  • Os corantes alimentares não são, de facto, a principal causa de distúrbios de hiperatividade e défice de atenção; contudo podem contribuir significativamente em alguns casos; e em alguns casos podem, de forma aditiva, “empurrar” uma criança para um limiar de diagnóstico

  • Existem várias linhas de evidência de um mecanismo biológico (que incluem efeitos a nível nutricional, a nível de vulnerabilidade genética e de mudanças no eletroencefalograma)

  • Embora não haja provavelmente uma reação imunomediada, uma libertação direta de histamina parece estar envolvida

  • Ao afetar os nutrientes e outros metabolismos periféricos, os corantes alimentares sintéticos podem afetar o cérebro sem atravessar a barreira hematoencefálica

  • O efeito pernicioso não parece estar confinado ao distúrbio de hiperatividade e défice de atenção, pelo que os corantes alimentares sintéticos podem ser mais um problema de saúde pública do que propriamente um distúrbio de hiperatividade e défice de atenção

  • Um pequeno efeito pernicioso relativo aos genes da histamina foi identificado - a existência de polimorfismos parece conferir a alguns indivíduos maior tolerância aos corantes alimentares sintéticos

  • O consumo diário de corantes alimentares sintéticos per capita quadruplicou nos últimos 50 anos; pelo que tal como disse Paracelsus, “A dose é que faz o veneno”

  • O estado atual de evidência é inconclusivo. Assim, até que a segurança possa ser melhor determinada, a sugestão é que se minimizem a exposição das crianças aos corantes alimentares sintéticos. Na verdade, com as preocupações atuais acerca da obesidade infantil, não parece haver necessidade de fazer os alimentos parecerem mais atrativos do que realmente são [Eugene Arnold, L. et al., 2012].

 

 

 

 

Crianças

Bibliografia

European Food Safety Authority (EFSA) (2009), Scientific Opinion on the re-evaluation of Sunset Yellow FCF (E 110) as a food additive, EFSA Journal 2009; 7(11):1330

 

Eugene, A. et al (2012) Artificial Food Colors and Attention-Deficit/Hyperactivity Symptoms: Conclusions to Dye for Neurotherapeutics (2012) 9:599–609

 

Gaunt, I. et al., (1967) Acute (Rat and Mouse) and Short-term (Rat) Toxicity Studies on Sunset Yellow FCF, Fd Cosmet Toxicol 5, 747-754

 

Golka, K. et al., (2004) Carcinogenicity of azo colorantes: influence of solubility and bioavailability, Toxicology Letters 151 (2004) 203-210

 

Helal, E. et al., (2000) Effect of some food colourants (synthetic and natural products) of young albino rats. I. Liver and kidney functions, Egyp. J. Hosp. Med. 1, 103-113

 

Kobylewski, S. et al., (2012) Toxicology of dyesInternational Journal of Occupational and Environmental Health (2012) 220-245

 

Mekkawy, H. et al., (2001). Effect of some food colours (natural and synthetic) on liver and kidney functions of male rats, Toxicology Letters 123 (suppl. 1), 37

 

Yadav, A. et al., (2013) Sunset yellow FCF, a permitted food dye, alters functional responses of splenocytes at non-cytotoxic dose, Toxicology Letters 217 (2013) 197– 204

 

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